quarta-feira, 30 de março de 2011

CONTINUANDO A DESFAZER CONFUSÕES

O QUE É, DE FATO, A CALIBRAÇÃO DE INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO?

Na postagem anterior, vimos que o que chamamos de calibração, no caso de alguns instrumentos, na verdade, não constitui uma calibração dos mesmos, mas sim, um ajuste da escala métrica ou de medição desses instrumentos, também chamado de REGULAGEM.
Agora, vamos entender, o que é, de fato, a CALIBRAÇÃO DE UM INSTRUMENTO, algo diferente daquilo que fazemos com as soluções-tampão nos pHmetros e com uma cubeta com água destilada em um espectrofotômetro analítico.

Para explicar corretamente em que consiste um determinado procedimento metrológico, costumo tomar como ponto de partida a definição do mesmo,  apresentada no VIM (Vocabulário Internacional de Metrologia). Desta vez, no entanto, não irei fazer isso, pois a definição de CALIBRAÇÃO constante na edição brasileira vigente do VIM (2009), é considerada um tanto complexa, por envolver um outro conceito também considerado complexo: incerteza de medição.
A definição de calibração apresentada no VIM 2000 é mais simples e deixa mais claro o que realmente esse procedimento é. Por isso, embora essa não seja a edição vigente do VIM e portanto, assim como as definições lá apresentadas para os termos metrológicos, seja considerada obsoleta, vou optar tomá-la como base para lhes explicar o que a calibração de um instrumento de medição verdadeiramente é.
O VIM 2000 define CALIBRAÇÃO  da seguinte maneira:

Conjunto de operações que estabelece, sob condições especificadas, a relação entre os valores indicados por um instrumento de medição ou um sistema de medição, ou valores representados por uma medida materializada, ou um material de referência, e os valores correspondentes das grandezas estabelecidos por padrões.


Vemos assim, que a CALIBRAÇÃO é um procedimento que não se aplica apenas a instrumentos de medição, mas também, a sistemas de medição, medidas materializadas e materiais de referência. Porém, em todos os casos, consiste sempre em um procedimento para se estabelecer a relação entre o valor de uma grandeza indicado pelo instrumento ou sistema de medição ou representado pela medida materializada ou material de referência e um valor dessa grandeza, considerado padrão.

Falando-se especificamente da CALIBRAÇÃO DE UM INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO, que é o que tenho por objetivo explicar aqui para vocês, esta serve portanto, para verificarmos o quanto próximo ou distante do valor padrão da grandeza,  é o valor da mesma, medido pelo instrumento. Podemos dizer assim, que tem como principal objetivo, a determinação do ERRO DE MEDIÇÃO do equipamento.


Mas, como um valor padrão de uma grandeza é determinado e porque podemos confiar tanto nele, a ponto de adotá-lo como valor de referência para julgarmos o quanto correta ou erradamente um instrumento nosso está medindo essa grandeza, ou seja, para fazermos o que acabei de mencionar acima: determinar o ERRO DE MEDIÇÃO do aparelho? E como esse valor padrão da grandeza é materializado, é representado na forma de um material, para que possamos submetê-lo a uma medição pelo instrumento que desejamos calibrar?

Para esclarecer todas essas questões, nosso ponto de partida deve ser a definição de PADRÃO, que nesse caso, pode ser a da edição vigente do VIM (2009). Lá, PADRÃO é definido assim:

realização da definição de uma dada grandeza, com um valor determinado e uma incerteza de medição associada, utilizada como referência 
A realização de uma grandeza significa a materialização desta. Dessa forma, um PADRÃO é então, um material, para o qual conseguimos determinar um valor de uma grandeza, que mesmo apresentando uma incerteza associada, é suficientemente  confiável para o tomarmos como valor de referência. Como exemplo, podemos citar os pesos-padrão empregados para a calibração de balanças.

O procedimento de calibração de um instrumento consiste portanto, na medição com esse instrumento, do valor da grandeza medida por ele, de um padrão desta grandeza, materializado de alguma forma, do qual, conhecemos um valor confiável e na comparação dos dois valores: o medido pelo instrumento que estamos calibrando e esse valor de referência do padrão, previamente determinado. A diferença entre os dois valores será o ERRO DE MEDIÇÃO do instrumento calibrado.

Como o valor do padrão não é 100% correto, tendo, como eu já disse, uma incerteza associada a ele, na comparação com esse valor, do valor medido pelo instrumento em calibração, não podemos deixar de considerar essa incerteza do padrão.

O valor dessa incerteza do padrão, bem como o valor de referência do mesmo, são determinados também, através de um procedimento de calibração. Um padrão é calibrado contra um outro padrão, para determinarmos seu valor e a sua incerteza. Por isso, que na definição de calibração que lhes apresentei, retirada do VIM 2000, é dito que uma grandeza materializada também é calibrada e um padrão é, como vimos, justamente isso, a materialização de uma grandeza.
Espero ter sido capaz de fazê-los entender o que é realmente uma calibração de um instrumento, como é efetuada e para que serve exatamente.


Na próxima postagem, continuarei  desfazendo a confusão que as pessoas geralmente fazem entre esses procedimentos executados nos instrumentos de medição. Explicarei o que é, de fato, um AJUSTE de um equipamento e como a execução desse procedimento no aparelho, só será necessária, dependendo dos resultados da calibração do mesmo, começarei falando um pouco desse assunto: quais os resultados da calibração de um instrumento, como analisá-los e decidir se o instrumento calibrado precisa ou não ser submetido a um AJUSTE.

Aguardem! Até lá!

Abraços a todos,

Consultor Luiz Ramalho



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